Rodolfo Amstalden: Falácia da troca de narrativa
Os movimentos de precificação de mercado estão cada vez mais sujeitos ao “arco narrativo”
O relato é hipotético, mas poderia se basear facilmente em fatos reais.
Um investidor profissional chama seu público interessado para explicar o racional da carteira diante dos fundamentos que se oferecem a 2024.
Das premissas consensuais de desinflação e queda da Selic, resultara uma realocação setorial bastante sensata ao final de 2023: reduzir exposição a commodities e aumentar apostas em cíclicos domésticos.
A tese de realocação parece feita para passar com dez na prova, mas a realidade é muito mais cruel do que os testes escolares.
As teses de investimento e a realidade
Minutos depois, de forma quase descorrelacionada, ficamos sabendo que a redução de commodities do referido investidor se deu quase totalmente por meio de uma "zeragem tática" de PETR4 em dezembro último, depois da alta de +96% em 2023.
Engatando um momentum trade memorável, as preferenciais da estatal sobem +12% neste início de ano, enquanto a maioria dos cíclicos domésticos vem sofrendo com o repique no yield dos Treasuries.
Por mais diligentes que sejamos em nossa cuidadosa construção dos alicerces de uma carteira, não há planejamento macro que sobreviva a um soco micro na cara.
Isso significa que o racional estava errado?
Não inteiramente errado, pois 100% condizente com as melhores informações disponíveis até aquele momento passado.
A falha aí está naquilo que, dentro do vernáculo metodológico da Empiricus, chamamos de "falácia da troca de narrativa".
O mercado e a troca de narrativa
Na esteira do que escrevem Robert Shiller em Narrative Economics e Damodaran em Narrative and Numbers, os movimentos de precificação de mercado estão cada vez mais sujeitos ao "arco narrativo" - nascimento, amadurecimento e morte de narrativas.
Contudo, temos que tomar cuidado com a interpretação desse processo literário.
Diferentes narrativas podem coexistir, e mesmo a alternância entre elas tende a ocorrer sob nuances graduais, ao invés de binárias.
Portanto, o risco está em vislumbrar os primeiros indícios de uma troca de narrativa, jump into conclusions, e (em termos práticos) dar um cavalo de pau na carteira.
Em vez disso, a melhor condução de uma estratégia contínua de investimentos costuma dar conta do tesão do novo, mas sem jogar fora o que era bom e está ficando velho.
Ironicamente, o mercado é neofílico (curioso para descobrir coisas novas) e, ao mesmo tempo, neofóbico (reticente com ideias que sejam excessivamente novas).
A impossível arte de investir está em transitar entre esses dois mundos.
Vai piorar antes de melhorar? Milei começa a arrumar uma Argentina economicamente destruída
Em poucos meses, Milei conseguiu diminuir inflação, cortar os juros e aumentar reservas do Banco Central da Argentina, mas custo social é alto
Felipe Miranda: O real vai morrer aos 30?
A decisão do Copom na semana passada foi inequivocamente ruim. Quando você tem um colegiado dividido entre os “novos” e os “velhos”, alimentam-se os piores medos. O Copom deveria saber disso.
Dúvidas cruéis sobre declaração de ações no IR: isenção, retificação, mudança de ticker, prejuízos e investimento no exterior
A Dinheirista responde algumas das suas dúvidas mais cabeludas sobre como declarar ações no imposto de renda
Bolsa barata não basta: enquanto os astros locais não se alinham, esses ativos são indispensáveis para a sua carteira
Eu sei que você não tem sangue de barata para deixar todo o patrimônio em ações brasileiras – eu também não me sinto confortável em ver os meus ativos caindo. Mas há opções para amenizar as turbulências internas.
Rodolfo Amstalden: Selic — uma decisão com base em dados, não em datas
Hoje em dia, ao que parece, tudo tem que terminar cedo, e bebidas alcoólicas são proibidas. Por conseguinte, os debates deram lugar a decisões secas e comunicados pragmáticos
Divididos entre o conservadorismo salutar e a cautela exagerada, Copom e Campos Neto enfrentam um dilema
Os próximos passos do Copom dependem, em grande medida, da reação da economia norte-americana à política monetária do Fed
Tony Volpon: Mantendo a esperança nas bolsas americanas
Começamos maio de forma bem mais positiva do que foi abril — sigo uma regra que, se não infalível, tem uma taxa de acerto bastante alta: se o payroll for positivo, o mês será positivo para as bolsas americanas
Meu filho de 30 anos faz mestrado e não trabalha; ele pode ser meu dependente na declaração de imposto de renda?
O filho dela é estudante, e ela arca com suas despesas; será que tem como abatê-las no IR 2024?
Como ganhar dinheiro no mercado financeiro usando um erro na estratégia das seguradoras
É assim que algumas vezes conseguimos capturar ganhos relevantes – como no caso do Bradesco no 4T23, que nos deu um retorno de mais de 500%
LCIs e LCAs ‘obrigam’ investidores a buscar outros papéis na renda fixa, enquanto a bolsa tem que ‘derrotar vilões’ para voltar a subir em 2024
Vale divulga balanço do 1T24 e elétricas sofrem com performance negativa; veja os destaques da semana na ‘De repente no mercado’
Leia Também
-
Vai piorar antes de melhorar? Milei começa a arrumar uma Argentina economicamente destruída
-
B3 passa a permitir portabilidade digital entre corretoras de ativos negociados em bolsa, como ações, ETFs e fundos imobiliários
-
Menos pressão para a Vale (VALE3)? BHP aumenta oferta para megafusão com a Anglo American — mas a proposta ainda não convenceu
Mais lidas
-
1
Yduqs (YDUQ3): por que as ações despencam mais de 10% na bolsa hoje — a resposta está no balanço, mas não é o resultado
-
2
B3 passa a permitir portabilidade digital entre corretoras de ativos negociados em bolsa, como ações, ETFs e fundos imobiliários
-
3
BTG Pactual (BPAC11) tem lucro recorde e supera grandes bancos privados em rentabilidade no 1T24