Quanto rendem R$ 100 mil na poupança, no Tesouro Direto e em CDB com a Selic em 10,75%?
Banco Central cortou a taxa básica em mais 0,50 ponto percentual nesta quarta; veja como a rentabilidade dos investimentos conservadores deve reagir
O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) efetuou mais um corte de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros nesta quarta-feira (20), como já era esperado pelo mercado. Agora, a Selic fica ainda mais perto do patamar de um dígito, passando de 11,25% para 10,75% ao ano.
Com isso, as aplicações de renda fixa mais conservadora, como aquelas que compõem a sua reserva de emergência, passam a render ainda menos, uma vez que costumam ser pós-fixadas e indexadas à Selic ou ao CDI, taxa de juros que caminha junto com a taxa básica. O patamar de rentabilidade de 1,00% ao mês, assim, ficou ainda mais distante.
- O Copom vai “acabar” com a renda fixa? Analista responde como ficam as perspectivas para essa classe de ativos na edição especial do Giro do Mercado, no dia 21 de março, às 12h. Inscreva-se AQUI para a transmissão gratuita.
Segundo o último Boletim Focus do Banco Central, que reúne as estimativas dos economistas para os principais indicadores, novos cortes devem ocorrer nas próximas reuniões do Copom, já que a expectativa é que a Selic deve terminar 2024 em 9,00% ao ano.
Mas essa estimativa tende a ser ajustada nos próximos dias, uma vez que o BC mudou o tom do comunicado que acompanhou sua decisão de juros, dizendo que antevê "redução de mesma magnitude na próxima reunião", no singular; ou seja, apenas mais uma redução de 0,50 ponto neste ano, a princípio, levando a Selic a 10,25%.
Seja como for, a taxa básica deve cair ainda mais neste ano, e consequentemente, também os retornos das aplicações conservadoras. Mas isso não quer dizer que elas devam deixar a sua carteira.
Primeiro porque ter uma reserva de emergência alocada em renda fixa pós-fixada, de liquidez diária e com baixo risco de crédito é sempre fundamental, independentemente do patamar de juros.
Segundo porque, ainda que mais baixa, a taxa básica de juros no Brasil ainda é alta frente à inflação. Nos 12 meses terminados em fevereiro, o IPCA acumulou variação positiva de 4,50%. Assim, o retorno real (acima da inflação) das aplicações pós-fixadas continua interessante.
Quanto rendem os investimentos de renda fixa conservadora com a Selic em 10,75%?
A queda da Selic para 10,75% ainda não é o suficiente para ativar o gatilho que muda a regra de remuneração da caderneta de poupança para 70% da Selic mais Taxa Referencial (TR). Esta mudança só ocorre caso a taxa básica caia abaixo de 8,50%, cenário que ainda está bem distante.
Assim, a poupança continua pagando seu tradicional 0,50% ao mês mais TR e se torna um pouco mais atrativa frente às aplicações financeiras indexadas à Selic e ao CDI – mas ainda com retorno pior, mesmo consideradas eventuais taxas e imposto de renda dos investimentos pós-fixados.
Com a Selic em 10,75% ao ano (e supondo um CDI um pouco inferior, de 10,65%, como costuma acontecer), as rentabilidades mensais e anuais líquidas das principais aplicações financeiras conservadoras ficam assim:
Investimento | Retorno líquido em 1 mês* | Retorno líquido em 1 ano** |
Poupança | 0,51% | 6,27% |
Tesouro Selic 2027 (via Tesouro Direto) | 0,63% | 8,73% |
CDB 100% do CDI ou fundo Tesouro Selic de taxa zero | 0,66% | 8,79% |
CDI bruto | 0,85% | 10,65% |
Parâmetros da simulação
- Para o cálculo do retorno da poupança, foi considerada a TR média de fevereiro de 2024 (0,0079%);
- Para o cálculo do retorno do Tesouro Selic, foram considerados uma taxa de administração igual a zero, o spread de compra e venda (espécie de “pedágio” para a venda do título antes do vencimento) e uma taxa de custódia de 0,20% ao ano sobre todo o montante investido, que é o padrão da calculadora do Tesouro Direto. Atualmente, no entanto, existe uma isenção da taxa de custódia para valores aplicados de até R$ 1 mil, o que significa que a verdadeira rentabilidade do Tesouro Selic, nesses casos, é um pouco maior que a estimada na tabela.
Como a Selic deve cair mais neste ano, ela não ficará estagnada em 10,75% por muito tempo. Ou seja, até o fim do ano, a rentabilidade das aplicações conservadoras será ainda menor que os valores projetados na tabela.
Importante notar ainda que, mesmo com a permanência da regra de remuneração da poupança em 0,50% mais TR, a rentabilidade da caderneta também vem caindo, ainda que sutilmente. É que, com a redução da taxa de juros, a TR também tende a recuar, embora responda por uma parcela pequena da remuneração.
Assim, para dar uma ideia melhor de como ficará a rentabilidade dos investimentos conservadores daqui para frente, vamos simular a aplicação para os prazos de um e dois anos utilizando as estimativas do mercado para a Selic e o CDI (DI futuro) para janeiro de 2025 e janeiro de 2026, respectivamente. Repare que ambas já estão na casa de 1 dígito.
Vale frisar, no entanto, que essas projeções podem mudar a partir da decisão do Copom de hoje, bem como das sinalizações do Banco Central para as próximas reuniões. Além disso, as projeções para a poupança continuam considerando a TR de fevereiro, mas esta taxa também pode cair daqui para frente.
Investimento | Retorno líquido em 1 ano* | Retorno líquido em 2 anos** |
Poupança | 6,27% | 12,93% |
Tesouro Selic 2027 (via Tesouro Direto) | 8,12% | 17,44% |
CDB 100% do CDI ou fundo Tesouro Selic de taxa zero | 8,18% | 17,50% |
LCI 90% do CDI | 8,88% | 20,58% |
Parâmetros da simulação
- DI para janeiro de 2025 (simulação de 1 ano): 9,91% a.a.
- Selic para janeiro de 2025 (simulação de 1 ano): 10,01% a.a.
- DI para janeiro de 2026 (simulação de 2 anos): 9,81% a.a.
- Selic para janeiro de 2026 (simulação de 2 anos): 9,91% a.a.
- Para o cálculo do retorno da poupança, foi considerada a TR média de fevereiro (0,0079%);
- Para o cálculo do retorno do Tesouro Selic, foram considerados uma aplicação de R$ 100 mil, taxa de custódia de 0,20% ao ano, uma taxa de administração igual a zero e o spread de compra e venda (espécie de “pedágio” para a venda do título antes do vencimento).
Veja, na tabela a seguir, quanto você teria ao final de cada período caso aplicasse R$ 100 mil em cada um desses investimentos, nas circunstâncias da simulação anterior:
Investimento | Quanto você teria após 1 ano | Quanto você teria após 2 anos |
Caderneta de poupança | R$ 106.267,97 | R$ 112.928,82 |
Tesouro Selic 2027 | R$ 108.124,20 | R$ 117.439,20 |
CDB ou fundo Tesouro Selic 100% do CDI | R$ 108.175,75 | R$ 117.495,01 |
LCI 90% do CDI | R$ 108.876,51 | R$ 118.346,87 |
Órfão das LCI e LCA? Banco indica 9 títulos isentos de imposto de renda que rendem mais que o CDI e o Tesouro IPCA+
Itaú BBA recomenda nove títulos de renda fixa, entre debêntures, CRIs e CRAs, acessíveis para investidores em geral e isentos de IR
Ficou mais difícil investir em LCI e LCA após mudanças nas regras? Veja que outras opções você encontra no mercado
Prazo de carência de LCIs e LCAs aumentou de três para 12 ou nove meses, respectivamente; além disso, emissões caíram e taxas baixaram. Para onde correr?
Meu CRI, Minha Vida: em operação inédita, Opea capta R$ 125 milhões para financiar imóvel popular de clientes da MRV
A Opea Securitizadora e a fintech EmCash acabam de anunciar a emissão do primeiro CRI voltado ao financiamento de unidades lançadas pela MRV dentro do programa habitacional do governo federal
Onde investir na renda fixa após tantas mudanças de regras e expectativas? Veja as recomendações das corretoras e bancos
Mercado agora espera que corte de juro seja menos intenso, e mudanças nos títulos isentos ocasionou alta da demanda por debêntures incentivadas, com queda nas taxas; para onde a renda fixa deve ir, então?
O risco do Tesouro Direto que não te contaram (spoiler: tem a ver com inflação e imposto de renda)
Mordida do Leão sobre o Tesouro IPCA+ ocorre não só sobre o retorno real do título, mas também sobre a variação da inflação; e isso tem implicações para o investidor
A vez da renda fixa: Debêntures impulsionam mercado de capitais no 1T24 após “fim da farra” das LCIs e LCAs
A captação do mercado de capitais chegou ao recorde de R$ 130,9 bilhões entre janeiro e março deste ano, impulsionada pelas ofertas de renda fixa
Está faltando papel? Emissões de LCIs e LCAs caíram pela metade depois de aumento do prazo de carência
Levantamento do JP Morgan mostra queda anual de 40% nas novas emissões de LCIs e LCAs e baixas de 50% a 60% desde aprovação das novas regras; estudo da XP também mostra impacto das medidas na emissão de CRIs e CRAs
Debêntures incentivadas viraram o porto seguro da isenção de IR, mas ainda valem a pena?
Títulos de dívida emitidos por empresas estão entre os melhores investimentos do ano, com alta de mais de 3,50%; em 12 meses, ganhos ultrapassam 18,50%. Mas depois de toda essa valorização, taxas continuam atrativas?
Mesmo com a Selic em queda, taxas do Tesouro Direto subiram e voltaram aos níveis de outubro de 2023; vale a pena investir agora?
Títulos públicos mais longos acumulam queda neste início de ano; no caso do Tesouro IPCA+ remuneração voltou a se aproximar dos 6% ao ano mais inflação
Sem IR e com dividendos: gestora do Nubank faz oferta pública de cotas do Nu Infra (NUIF11), seu fundo de debêntures incentivadas
Objetivo da Nu Asset é captar R$ 150 milhões para seu fundo de crédito privado focado em infraestrutura
Leia Também
-
Prévia da inflação veio melhor que o esperado — mas você deveria estar de olho no dólar, segundo Campos Neto
-
Os EUA conseguem viver com os juros nas alturas — mas o resto do mundo não. E agora, quem vai ‘pagar o pato’?
-
É tudo culpa dos juros? PIB dos EUA vem abaixo do esperado, mas outro dado deixa os mercados de cabelo em pé
Mais lidas
-
1
Vale (VALE3) e a megafusão: CEO da mineradora brasileira encara rivais e diz se pode entrar na briga por ativos da Anglo American
-
2
Preço dos imóveis sobe em São Paulo: confira os bairros mais buscados e valorizados na cidade, segundo o QuintoAndar
-
3
Imposto de 25% para o aço importado: só acreditou quem não leu as letras miúdas