DO LEME AO PONTAL: MENOS PRESSÃO DE JUROS LÁ FORA
Bom dia, pessoal.
Entre ontem e hoje, o mercado demonstrou um otimismo renovado, impulsionado por um relatório que revelou uma desaceleração da inflação nos Estados Unidos em abril. O índice de preços ao consumidor subiu 3,4% em comparação ao ano anterior, uma ligeira melhora em relação à taxa registrada em março. Embora essa inflação ainda seja elevada, a tendência de queda trouxe alívio aos investidores.
Como reflexo, as ações asiáticas apresentaram alta nesta quinta-feira, acompanhando o desempenho positivo do mercado ocidental do dia anterior. Os juros dos títulos do Tesouro americano de 10 anos, que haviam ultrapassado 4,70% ao ano, recuaram para perto de 4,30%, alimentando esperanças de que a inflação esteja finalmente se dirigindo para um patamar normalizado. Ainda que a inflação siga alta, já é um avanço.
Na manhã de hoje, os mercados europeus enfrentam dificuldades para manter o bom ritmo de ontem, enquanto os futuros americanos apresentam uma leve alta, ao menos temporariamente. Existe ainda a expectativa de um possível corte de juros em setembro, se as condições econômicas continuarem a melhorar. No radar econômico, temos discursos de autoridades monetárias e dados de produção industrial de abril nos EUA, que podem influenciar ainda mais a trajetória dos juros. No mercado de commodities, o destaque vai para o minério de ferro, que subiu mais de 2% no mercado internacional, podendo ter um impacto positivo no Brasil.
A ver…
00:53 — O dia depois da saída de Prates
Ontem, o mercado brasileiro encerrou em queda de 0,38% pelo Ibovespa, aos 128.028 pontos, influenciado principalmente pela queda das ações da Petrobras. Os papéis preferenciais da estatal de petróleo caíram 6,04% durante a sessão devido à saída do CEO Jean Paul Prates. Na manhã de hoje, observamos uma estabilização das ADRs da Petrobras listadas em Nova York, sugerindo que o pior já passou. A incerteza agora recai sobre as mudanças que a nova direção pode implementar na companhia, especialmente em relação ao risco de maior intervenção governamental. Sem o impacto negativo da estatal, o desempenho do mercado brasileiro poderia ter sido melhor, impulsionado também pela queda dos juros no exterior.
Entre os indicadores divulgados, o destaque foi o IBC-Br, considerado uma prévia do PIB, que registrou uma queda de 0,3% em março na comparação mensal, e uma redução de 2,2% em termos anuais. Esses números refletem a crescente dificuldade na atividade econômica doméstica, um sintoma que tende a piorar com a manutenção das taxas de juros em níveis elevados. Como indicado no último Boletim Focus, há uma preocupação crescente sobre a alta das projeções para o IPCA em prazos mais longos. Cenários de inflação mais alta exigem taxas de juros mais elevadas. Paralelamente, o mercado especula que o Conselho Monetário Nacional (CMN) poderá adiar a publicação do decreto que estabelece o regime de meta contínua de inflação no Brasil, anteriormente prevista para 2025. Isso significa que o CMN poderá definir a meta de inflação como tradicionalmente faz, projetando três anos à frente.
01:45 — Dificuldade em se vender
Mohamed El-Erian, economista-chefe da Allianz e ex-CEO da PIMCO, abordou recentemente as mudanças substanciais que estão ocorrendo na economia mundial, ressaltando a dificuldade de realizar previsões precisas no ambiente pós-pandêmico. Ele aponta que os modelos econômicos convencionais muitas vezes falham em captar a realidade atual, mas calcula que há uma probabilidade de 35% de uma recessão nos Estados Unidos, também percebendo 50% de chances para um ajuste suave da economia do país. Curiosamente, ele também mencionou, como já destaquei no M5M, que Brasil e Índia estão bem posicionados para aproveitar a reconfiguração geopolítica global, podendo manobrar eficazmente entre as grandes potências.
No entanto, El-Erian identifica um desafio significativo para o Brasil: a necessidade de melhorar sua projeção no cenário internacional. Precisamos aprender a nos vender. Respondendo a perguntas sobre a situação atual do Brasil e estratégias para atrair mais investimentos, ele destacou a crucial necessidade de estabilidade macroeconômica. Como já discutimos, não é suficiente apenas contar com um ambiente global favorável; é essencial que façamos nossa parte. Isso significa manter as reformas iniciadas durante o governo Temer. Embora estejamos progredindo, nos últimos meses houve momentos de hesitação, com riscos desnecessários sendo assumidos. É imperativo que continuemos nossos esforços para modernizar o país.
02:31 — Depois da inflação
Nos EUA, o S&P 500 atingiu hoje um novo recorde, o primeiro desde o final de março, impulsionado por novos sinais de que a inflação está, de fato, diminuindo. O índice de preços ao consumidor subiu 3,4% em abril em relação ao ano anterior, uma queda em relação à taxa de 3,5% registrada em março. Esse foi o primeiro relatório de inflação bom em quatro meses, suficiente para desencadear uma alta tanto nas ações quanto nos títulos do Tesouro, cujos rendimentos caem à medida que os preços sobem.
O rendimento do Tesouro a 10 anos recuou para perto de 4,3%, seu nível mais baixo desde o início de abril. Esse otimismo nos bastidores foi alimentado pela queda de 0,1% nos preços subjacentes dos bens e pelo aumento de apenas 0,4% nos preços básicos dos serviços, o menor ganho desde dezembro. O núcleo do índice, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, subiu 0,3% em abril na comparação mensal. Diante deste cenário, a possibilidade de um corte de juros em setembro voltou a ser considerada viável.
03:29 — O vigor americano
Apesar da normalização da inflação, a atividade econômica dos EUA continua a atrair bastante atenção. Como a economia conseguiu crescer mais de 3% no ano passado e manter uma taxa de desemprego abaixo de 4% em meio ao aperto monetário mais agressivo do Federal Reserve em quatro décadas, ao mesmo tempo em que a inflação desacelerava? Alguns atribuem esse fenômeno a uma "força externa", essencialmente como o presidente do Fed, Jerome Powell, vê a situação, destacando o papel do aumento da imigração.
Já discutimos anteriormente esse desenvolvimento. A verdade é que o aumento da imigração ajudou a suavizar parte da escassez de mão-de-obra, o que significa que os empregadores não precisaram recorrer tanto ao pool existente de trabalhadores potenciais no país. Isso implica que a capacidade da economia aumentou, talvez mais do que a produção real. Trata-se de uma economia maior, não mais restrita.
A métrica chave aqui é o valor do crescimento neutro das folhas de pagamento, que representa um limite de velocidade para o crescimento das folhas de pagamento sem apertar o mercado de trabalho e sem aumentar as pressões salariais. Uma aceleração na imigração efetivamente eleva essa taxa de equilíbrio mensal, que os economistas agora estimam entre 160 mil e 265 mil este ano. Isso é significativamente superior ao ritmo de cerca de 100 mil que Powell identificou em 2022. Estamos vivendo uma nova normalidade na economia americana.
04:16 — Erros persistentes e sistemáticos
Recentemente, o Banco da Inglaterra (BoE) admitiu falhas recorrentes e significativas em suas projeções de inflação. Swati Dhingra, membro do comitê de política monetária do banco e uma das duas autoridades que votaram pela redução da taxa de juros de 5,25% para 5%, destacou esses erros, embora a decisão final tenha mantido as taxas inalteradas. Tais falhas, que já existiam no passado, só se agravaram após a pandemia, que trouxe uma nova realidade para os mercados.
Os modelos estatísticos utilizados pelas autoridades monetárias frequentemente erram ao estimar as tendências econômicas, superestimando ou subestimando-as. Quando ocorre uma mudança crucial no cenário econômico, esses modelos geralmente falham na direção oposta. Mesmo os melhores sistemas de previsão econômica possuem uma quantidade inerente de incerteza e imprecisão. Essa questão não é exclusiva do Reino Unido; Brasil e Estados Unidos também enfrentam desafios semelhantes em suas previsões econômicas.