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Renan Sousa
Renan Sousa
É repórter do Seu Dinheiro. Formado em jornalismo na Universidade de São Paulo (ECA-USP) e já passou pela Editora Globo e SpaceMoney.
SEGREDOS DA BOLSA

Esquenta dos mercados: Ibovespa digere eleição e nova configuração do Congresso; bolsas no exterior recuam à espera dos dados da semana

Os dados de emprego dos Estados Unidos dominam a semana enquanto os investidores acompanham reunião da Opep+

Renan Sousa
Renan Sousa
3 de outubro de 2022
7:26 - atualizado às 8:20
Homem prestes a tomar sal de frutas, bolsas reagem com indigestão às eleições; Iboespa reage às eleições e exterior cai hoje
Confira o que movimenta a bolsa, o dólar e o Ibovespa esta semana. - Imagem: LightField Studios/Shutterstock

O cenário mais provável para os desdobramentos das eleições presidenciais aconteceu. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual presidente Jair Bolsonaro (PL) se enfrentarão em um segundo turno — mas o acontecido surpreendeu alguns eleitores e o sentimento de espanto deve se refletir na bolsa local hoje.

Sendo bem sincero, parte da esquerda estava em um clima de “já ganhou” — afinal, as últimas pesquisas de intenção de voto apontavam chances de vitória de Lula já no primeiro turno.

Mas nem mesmo as pesquisas foram capazes de captar a migração de eleitores para o campo de Bolsonaro. O resultado da apuração do último domingo (02) surpreendeu até mesmo quem acompanhava os levantamentos: de projeções que variavam entre 33% e 35%, o atual presidente abocanhou 43,20% dos votos.

Agora, os candidatos se enfrentam em um duelo final no dia 30 de outubro, data do segundo turno. Até lá, ambos candidatos devem intensificar suas campanhas — e mais uma vez o futuro é incerto.

E onde se encaixa o investidor brasileiro nesse cenário?

Bem, incerteza e bolsas são como água e óleo e preferem não se misturar. O investidor acompanhará o dia a dia dos candidatos, as propostas e corpo de ministros enquanto lida com um cenário externo de grande cautela. 

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Em outras palavras, a volatilidade deve dominar o Ibovespa pelo menos pelo próximo mês, até a definição do cargo de presidente da República. 

Se o Ibovespa se descolou do exterior com um relativo otimismo em relação às eleições nas últimas semanas, a pressão sobre os negócios deve dominar e, sem ajuda lá de fora, a bolsa local não deve enfrentar bons dias. 

Os reflexos do alívio — ainda que temporário — das campanhas para o segundo turno foi refletido no EWZ, o fundo de índice (ETF, em inglês) que replica o desempenho do Ibovespa no exterior. O ativo deu um salto de 3% no pré-mercado em Nova York, mostrando que o invertidor gostou do resultado do primeiro turno.

Três pontos devem reforçar a volatilidade das bolsas globais nesta segunda-feira (03): a alta do petróleo, a virada de mês com ajuste de carteiras e a baixa liquidez com a ausência dos mercados chineses. 

Veja o que movimenta as bolsas, o dólar e o Ibovespa esta semana:

Um congresso mais conservador

Os cenários projetados para o segundo turno dão conta de uma vitória do ex-presidente Lula frente ao seu oponente, Bolsonaro — ainda que o público em geral tenha desconfiado dos institutos de pesquisas após os resultados de ontem, os levantamentos não só podem como devem ser levados em conta.

Entretanto, não é só o Palácio do Planalto que está em jogo.

Acontece que a direita conseguiu fincar raízes no eleitorado brasileiro e praticamente dominou o Congresso e os estados. O partido de Bolsonaro, por exemplo, abocanhou 16% da Câmara e quase 25% do Senado. Se as projeções de segundo turno se confirmarem, o diálogo com políticos do campo político inverso do futuro presidente não será nada fácil.

Cenário número 1

O clima lembra um pouco o ano de 2016, quando a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) também enfrentava pontos de intransigência com o Congresso.

Diferentemente daquela época, o trunfo pode ser o capital político e a estima de Lula com seus pares na Câmara e no Senado — mas o apreço tem um preço no jogo político.

Cenário número 2

Outra possibilidade seria a manutenção de Jair Bolsonaro na cadeira do Planalto. Não é de hoje que o presidente mais sede do que ganha no Congresso e é visto como uma figura enfraquecida na política nacional frente aos seus pares — estamos falando do presidente da Câmara e seu respectivo no Senado. 

Também pesa do lado negativo do presidente a falta de estima internacional, com pouco apoio de líderes de importantes economias e parceiros comerciais do Brasil. 

E por que isso importa?

Em resumo, um Congresso voltado para a direita e centro-direita não necessariamente carrega consigo a ideologia liberal esperada pelos eleitores mais engajados com a economia. 

A pauta de reformas e austeridade nas contas públicas deve ser levada pelos representantes do Executivo — entre eles, o próprio presidente — e debatida tentando equilibrar as forças entre os Poderes.

São muitos “se” para o investidor ter um panorama mais bem definido do que fazer até o momento. Resta esperar pela campanha, segundo turno e uma definição melhor da classe política para decidir o que fazer.

Bolsas no exterior hoje

Fora das confusões locais, os índices lá fora vivem seus próprios momentos de volatilidade. 

Começando pelas bolsas já fechadas na Ásia e no Pacífico, os índices registraram perdas no pregão desta segunda-feira, refletindo o fraco desempenho de Nova York da semana passada.

Vale ressaltar que a ausência de negócios na China nesta semana deixará a liquidez reduzida ao longo dos próximos dias, o que também tende a aumentar a volatilidade.

Já os investidores da Europa mantêm uma posição defensiva e as bolsas caem, na média, 1%. Os futuros de Nova York operam sem direção definida nas primeiras horas do dia. 

Petróleo influencia os negócios

Chama a atenção a alta de mais de 3% no petróleo hoje. O barril do Brent, utilizado como referência internacional, é negociado a US$ 88,43.

Isso porque a Opep+ deve considerar na próxima quarta-feira (05) o maior corte de produção desde o início da pandemia, visando sustentar os preços da commodity. A medida, entretanto, pode pressionar o crescimento econômico global.

Segundo fontes ouvidas pelo Estadão Conteúdo, está sendo considerada a possibilidade de redução de mais de 1 milhão de barris por dia.

A tal recessão que tanto assusta

Preocupações com a desaceleração da economia global arrastaram os preços do petróleo para baixo em seu ritmo mais rápido desde que a pandemia de covid-19 começou no início de 2020, levando a Opep+ a considerar maneiras de sustentar o preço do petróleo.

A partir daí, qualquer movimento da Opep + para aumentar os preços do petróleo pode pressionar ainda mais os consumidores ocidentais já prejudicados pelos altos custos de energia, além de ajudar a Rússia — um dos maiores produtores de energia do mundo — a encher seus cofres estatais enquanto trava uma guerra contra a Ucrânia.

Tudo isso em um contexto de recessão técnica na maior economia do planeta. O PIB dos Estados Unidos recuou por dois trimestres seguidos, confirmando as preocupações de que o país deve reduzir seu crescimento e levar consigo parte do desempenho econômico global. 

Emprego nos EUA movimenta bolsas

Por fim, na sexta-feira (07) serão publicados os dados de emprego nos Estados Unidos. O chamado payroll deve ser divulgado só no último dia da semana, mas ao longo dos próximos dias, algumas “parciais” devem dar pistas do resultado.

Isso porque a chamada “semana de emprego” conta com a publicação dos números dos relatórios Jolts de emprego (na terça-feira) e do ADP (na quarta-feira).

Bolsas na semana: agenda dos próximos dias

Segunda-feira (03)

  • Alemanha: PMI industrial (4h55)
  • Zona do Euro: PMI industrial (5h)
  • Reino Unido: PMI industrial (5h30)
  • Banco Central: Boletim Focus semanal (8h25)
  • Brasil: PMI industrial (10h05)
  • Estados Unidos: Presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, participa de evento do Fed (10h05)
  • Estados Unidos: PMI industrial (11h)
  • Reino Unido: Diretora do BoE, Catherine Mann participa de evento sobre política monetária (15h)
  • Estados Unidos: Presidente do Fed de Richmond, Thomas Barkin, participa de evento do Fed (12h45)
  • Feriado na China mantém mercado financeiro fechado por lá

Terça-feira (04)

  • França: OCDE divulga CPI de agosto (7h)
  • Brasil: CNI divulga indicadores industriais de agosto (10h)
  • Estados Unidos: Secretária do Tesouro, Janet Yellen, participa de evento do próprio departamento (11h)
  • Estados Unidos: Relatório Jolts de empregos (11h)
  • Chipre: Presidente do BCE, Christine Lagarde, participa de evento com estudantes (12h)
  • Feriado na China mantém mercado financeiro fechado por lá

Quarta-feira (05)

  • Alemanha: PMI composto (4h55)
  • Zona do Euro: PMI composto (5h)
  • Reino Unido: PMI composto (5h30)
  • IBGE: Pesquisa industrial mensal (9h)
  • Estados Unidos: Relatório ADP de empregos privados (9h15)
  • Brasil: PMI composto (10h)
  • Estados Unidos: PMI composto (10h45)
  • Banco Central: Fluxo cambial de setembro (14h30)
  • Áustria: Reunião ministerial da Opep+ (sem horário definido)
  • Feriado na China mantém mercado financeiro fechado por lá

Quinta-feira (06)

  • Zona do Euro: BCE publica ata da mais recente reunião de política monetária (8h30)
  • Estados Unidos: Pedidos de auxílio-desemprego (9h30)
  • Feriado na China mantém mercado financeiro fechado por lá

Sexta-feira (07)

  • IBGE: Varejo restrito e ampliado em agosto (9h)
  • Estados Unidos: payroll de setembro (9h30)
  • Estados Unidos: Crédito ao consumidor do Fed (16h)
  • Feriado na China mantém mercado financeiro fechado por lá

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