Uma voz pessimista sobre o Brasil
Rogério Xavier, da SPX, tem uma visão pouco positiva a respeito do Brasil e dos investimentos no país. Saiba o que ele disse e quais alternativas buscar nesse cenári
Os gringos não querem saber de nós. Não é de hoje. Como disse o Rogério Xavier, um dos melhores investidores do mundo, hoje sediado em Londres, ao Felipe Miranda em live da Empiricus nesta semana.
“A história do golpe colou aqui na Europa. Os estrangeiros ficaram assustados. Desde então, nunca mais voltaram. Desde 2016, só sacaram, tiraram dinheiro do país”, disse ele. “O Brasil é irrelevante nas conversas em Londres. Você não gasta um minuto. Dedicam ao Brasil o mesmo tempo que dedicam à Ucrânia, ao Egito, ao Vietnã.”
O governo Bolsonaro é mal visto. “Desde o começo, aquela história da Amazônia pegou muito mal. Você dizer que era brasileiro era quase uma vergonha irreparável”, disse Xavier. E quando o ministro do Meio Ambiente fala em “passar uma boiada” de desregulação ambiental enquanto está todo mundo desatento, o estrangeiro vê o Brasil como uma país desgovernado.
Agora há a vergonha internacional que é a maneira como o combate ao coronavírus está sendo conduzido por aqui. “Financial Times e Economist batem o tempo inteiro. A mídia em Londres é totalmente contra o governo Bolsonaro.”
Para piorar, temos problemas na condução das políticas monetária e fiscal.
Política monetária
“Acho que estão cometendo um erro gravíssimo. Cortar os juros agora não afeta absolutamente nada a demanda”, diz Xavier. “Tem outros países emergentes ridicularizando o Banco Central brasileiro. Um dos dirigentes do Banco Central do México chegou a comentar que eles não iam abaixar a taxa de juros para ficar vendendo dólar do jeito que uns alucinados estavam fazendo.”
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A taxa de juros do México é 5,5%. A do Brasil é de 3% e deve cair para 2,25%. Mas o risco do México é pior que o do Brasil? Não é. Por que algum estrangeiro deixaria seu dinheiro em títulos públicos brasileiros, então?
“O prêmio brasileiro é muito baixo. Suponha que o investidor estrangeiro fique de fora e nada aconteça, e no final o Brasil se saia maravilhosamente. Poxa, deixei de ganhar 2% ao ano. Tá de brincadeira, né?”
Por isso, Xavier aposta que o câmbio vai ainda mais para cima.“Quanto mais o BC empurra essa taxa de juros para baixo, mais ele está expulsando as pessoas [de aplicar aqui no Brasil]. Existe essa percepção de que todo o dinheiro que tinha de estrangeiros para sair já saiu. Mas quanto a eu e você, que temos reais? Não podemos nós comprar dólar amanhã mesmo?”
O Banco Central pode dizer que está cumprindo o seu mandato: a instituição tem meta de inflação, não de taxa de câmbio, afinal. O problema é que, na prática, a vida é mais complicada.
“Como as pessoas medem risco? Você pode falar que o CDS do Brasil está tanto. Você acha que algum ser humano fora do mercado financeiro se importa? Se falar do CDS no Jornal Nacional, o sujeito não vai ter a menor ideia do que é isso”, diz Xavier.
“Agora fala no jornal que o dólar foi para seis reais. A percepção de risco que as pessoas têm é a taxa de câmbio. Se ela começa a subir de maneira importante, as pessoas ficam assustadas. Alguma coisa deve estar errada.”
Problema fiscal
Além disso, a nossa incompetência em lidar com a pandemia vai fazer a gente ficar patinando, incapaz de retomar a vida, por mais tempo — e isso pressiona o caixa do governo, que arrecada menos. Por outro lado, aumenta a demanda por auxílios.
Além disso, o centrão vai querer cargos e verbas. “Não é a agenda liberal que foi vendida”, diz Xavier. “Paulo Guedes hoje em dia é mais um bolsonarista do que um economista liberal. No final, ele já se converteu. É como se aquilo fosse uma religião. Acho que dificilmente ele vai sair.”
“Com PIB caindo, desemprego lá no alto, como achar que a sociedade vai estar madura para aceitar um sacrifício [fiscal]? Não estava nem antes, imagine agora. Ninguém vai querer vir com a faca. E enquanto isso a gente não privatizada nada, o gasto segue descontrolado.”
De modo que a dívida vai lá para a casa dos 100% do PIB, um número muito alto. Isso em um país desorganizado, com Executivo em conflito com Legislativo e Judiciário.
“Em termos fiscais, a pandemia fez a gente jogar uma Previdência fora num sopro. Isso vai ter consequências. Nesse cenário, quem vai investir no Brasil?”, pergunta Xavier. “Isso também me faz achar que muita gente vai procurar se refugiar no dólar.”
Investir fora
Como, neste cenário, encarar investimentos no exterior? Há algumas boas notícias na mesa. Em primeiro lugar, não haverá um socialista no páreo para a presidência dos Estados Unidos. Essa incerteza está eliminada.
Sobre a atuação do Fed, que está comprando tudo que há pela frente, é preciso cautela na análise. “Se o Fed falasse que vai comprar todas as bananas do mundo, eu corria para comprar banana na frente e vender para o Fed”, diz Xavier. “O que o mercado está fazendo é comprando a put Fed. O Fed está dando uma opção ao mercado.”
Em algum momento, isso vai acabar. O Fed pode muito, mas não pode tudo, como se diz. Nessa hora, o mercado tenderá a fazer um movimento para baixo. “Mas acho que não é agora.”
Além disso, a recuperação global será lenta e heterogênea, porque haverá perda de produtividade e talvez algum grau de protecionismo pelo mundo. O investidor, portanto, precisará de especial atenção para alocar seu patrimônio e aproveitar as eventuais oportunidades, especialmente fora do Brasil.
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